quinta-feira, 16 de junho de 2011

O TÚNEL DO TEMPO E A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Quando a segunda guerra mundial acabou, os sobreviventes perguntavam-se como e porque uma loucura daquelas acontecera e o que fazer para que não se repetisse. Do Tratado de Versalhes com pesadas indenizações impostas aos alemães à belicosidade germânica, passando pelo afloramento de ideologias totalitárias, nenhuma destas formulações poderia responder à segunda e mais importante questão, como impedir uma repetição catastrófica de um conflito mundial?

Mas era na primeira questão que estava a chave para a solução da segunda. As causas da guerra, não foram as indenizações Alemãs, nem a mera belicosidade de quem quer que fosse, ou o fascismo. O X do problema, a verdadeira causa, foi  a crise econômica de 1929 que tornou a dívida alemã impagável, e reascendeu o nacionalismo e belicismo em milhões de desempregados, não só na Alemanha, como em todo mundo.

O segredo para impedir nova hecatombe foi rapidamente descoberto pelos dois grandes vencedores que emergiram em 1945. URSS e USA já conheciam nos anos quarenta a fórmula que meio século depois levaria Bill Clinton à vitória eleitoral. É a economia, estúpido. E a economia de Estado. A União Soviética por motivos ideológicos e com um autoritarismo maior que o de Pedro o Grande, em 40 anos, até ruir espetacularmente como um muro mal construído, construiu a segunda potência industrial do mundo. Os Estados Unidos da América, também por motivos ideológicos mas com a mão leve (nos dois sentidos), haveria também de investir o dinheiro do Estado pesadamente para recuperar sua parte do espólio europeu e o fez astutamente “dando” dinheiro, não só a seus aliados semi destruídos, como aos derrotados alemães e italianos. Os dividendos vieram fartos e rapidamente em menos de 5 anos, na forma de um mercado consumidor vasto e ávido por produtos americanos, mas também do produzido na própria Europa com capitais americanos. E como isto se deu?

Basicamente o dinheiro do plano Marshall foi usado pelos europeus em duas coisas, a recuperação da infra estrutura e, principalmente, no que ficou conhecido como Estado do Bem Estar Social, ou Welfare State, que consiste, economicamente falando e a grosso modo, na transferência de recursos do Estado para a população, na forma de assistência social de saúde e financeira pura e simplesmente.

O ser humano tem uma tendência a esquecer tanto males como benesses. Assim, os seis anos de horror bélico, e os trinta anos de paz e prosperidade propiciados pelo Welfare State na Europa, e mesmo a grande depressão foram esquecidos pelos seus causadores. Nos anos 80, com a vitória dos conservadores na Inglaterra de Margaret Thatcher e dos republicanos nos EUA com Ronald Reagan, os grandes financistas do mundo e financiadores dos dois políticos, perceberam que o dinheiro “desviado” para a população poderia muito bem ir para seu(deles) controle e que eles o aplicariam bem melhor que o Estado.

A questão não era se o Walfare era bom ou ruim. Na visão dos gênios financeiros que menos de duas décadas depois provocariam duas gigantescas novas depressões em 1997 e 2008, e correriam, piano, piano, pedir dinheiro a Daddy State para salvar seus Brothers e Lahmans, a montanha de dinheiro drenada para pobres e vagabundos pelo Estado Previdência, como perjorativamente gostam de chamar, seria mais produtiva se usada em derivativos.

No Brasil, a grande questão econômica é a baixa taxa de poupança interna real do setor privado, e o mantra mentiroso do excesso de gastos do Estado, que inclui o propalado e nunca seriamente demonstrado déficit da previdência. Daí a tal da desoneração da folha, a previdência complementar, o desmonte da fiscalização previdenciaria e, claro, o silêncio sobre o sistema S, que já é “nosso”(deles).

Nós, cidadãos brasileiros eufóricos com o crescimento econômico recente que decorreu justamente das transferências de renda para os menos privilegiados e a consequente criação de um mercado interno robusto, não devemos deixar que nosso Estado Fraterno seja destruído ou alijado de recursos por grupos de “ïnvestidores” de planos de saúde e de previdência privada.

Nós, trabalhadores brasileiros não podemos permitir que grandes empresas que usam consultoria de ex-trabalhadores transformados em empresários multiplicadores de lucros e patrimônio, continuem a solapar nossas poupanças transformando nossas aposentadorias em pó.

Nós, funcionários públicos que conservamos com nosso suor o caráter republicano do Estado brasileiro, não podemos permitir que o governo, qualquer governo principalmente um eleito por nós, use nossa contribuição sem contrapartida para fazer caixa.

Nós, Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil que garantimos o aporte de recursos para o Estado não podemos aceitar que a fiscalização previdenciária seja desmantelada com o objetivo de destruir o insipiente Estado de Bem Estar Social idealizado pela nossa constituição.



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