domingo, 19 de junho de 2011

BULLYING II (BANZÉ NA EMBAIXADA)

Corria tudo bem nos jardins do embaixador Alencastro, Dona Antônia sua fiel esposa ainda degustava a segunda caipirosca e Paco, com o acompanhamento do pandeiro de Paquita, executava um fado pós-moderno de um obscuro grupo de rock que chorava um desengano amoroso pela internet.
Delete, delete,
delete este caso de amor
mas não vá buscar na lixeira
o mesmo arquivo que já deletou...
De inopino, o cantor largou o violão de sete cordas e bradou com todas as letras e a todos pulmões:

__ V A G A B U N D A!!!!
Um silêncio sepulcral dominou os jardins da embaixada e os únicos sons audíveis por alguns segundos foram o borbulhar do cassoulet e o gorgéio de uma sabiá na laranjeira. Logo um burburinho formou-se. A senha para tal fora do cônsul Miranda, com sua famosa expressão  __ Merida!!! __ depois, nem uma palavra era distinguível, como se a torre de Balbel acabasse de ruir naquele instante. O coronel Siqueira levou a mão á cintura e acariciou o coldre da arma dentro da pochete. O terceiro secretário da embaixada da Coreia do Norte, Chin Pand Tsé, em seu uniforme oficial coberto de condecorações, correu até a mesa próxima ao palco e tentava arrastar sua esposa para longe do local gritando o que pareciam impropérios em sua(dele) língua natal em direção do cantor.
É que o alvo do elogio de Paco, soube-se depois, fora Tomico, a esposa do terceiro secretário. Quem a via pela primeira vez não imaginava-lhe o génio e, mais característico, o matraquear incessante capaz de deixar sem fôlego qualquer  interlocutor; parecida com aquelas bonecas de porcelana japonesas, pele de seda e olhar angelical, mas ninguém escapava do seu falatório. Uma vez, em outro domingo, para quebrar o gelo em uma roda de funcionários da embaixada americana começou:

__ Pois é, eu aqui, com três corruptos porcos capitalistas... 

Foi o bastante para tagarelar solo por cinco minutos, tempo suficiente para que os três constrangidos saíssem de fininho, um a um, deixando-a a falar sozinha.
Frequentava a embaixada sempre encangada com Amelie Catran do Haití e Suely Galvão, antiga vedete que pintava-se e vestia-se como no tempo em que ainda era bonita e desejada pelos homens que a apelidavam de Cadilac, uma referência ao famoso modelo de automóvel americano com rabo de peixe, da época de sua(dela) juventude.
As três tagarelavam na mesa próxima ao palco, falando todas ao mesmo tempo sem importar-se com o que as outras diziam. Paco já pedira que falassem mais baixo várias vezes e nada. Mas o estopim da explosão do cantor foi um Dó desafinado que Tomico, propositadamente, emitiu de falsete com o olhar fixo no músico.
Agitadíssimo, parecendo um boneco de pilha nova, Ferdinando Peñarol, vice cônsul da Espanha, galantemente e mais ofendido que o marido coreano exigia desculpas de Paco. Aquele, em mal português só repetia diplomaticamente: 

__Tomico não é “bagabunda”, Tomico não é “bagabunda”. Só está emocionalmente "na balada". 
Paco, balbuciou um constrangido “Desculpe-me dona Tomico, excedi-me”. Guardou a viola no saco e quase no portão foi atalhado por Dom Alencastro e Dona Antônia.
  
__ Não se arrelie, Paco. A partir de domingo ela estará bloqueada, disse Dona Antonia.

Dom Alencastro arrematou:

__ Só havias de usar “vagabunda” no plural, e bloquearia as três. 

8 comentários:

  1. Adorei as garotas superpoderosas: feinha, amarguinha e murchinha... kkkkk

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  2. Helder Gondim,
    Não sou norte-coreano, mas isso não vem ao caso. O que é engraçado é que o nome colocado ao tal personagem é de uma espécie de macaco, o fato que demonstra seu preconceito racial. Se você tiver pretensão de representar a Oposição pela Brasília, pode considerar que prestou grande serviço ao seu grupo. Aliás, gostaria conhcê-lo pela sua admirável dom de criar um enredo tão criativo, que me faz pensar você ter escolhido profissão errada: em vez de auditor-fiscal, deveria ter escolhido uma, digamos, de dramaturgo ou circense. Afinal vocês eram muito bons em encenações teatrais na frente do prédio do MF, eram espetáculos admiráveis! Agora estou percebendo quem eram os criadores de tais obras geniais, que ficaram conhecidas como marcas registradas de "unadoidos".

    O terceiro secretário da embaixada da Coreia do Norte, Chin Pang Tsé,

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  3. Só pode ser brincadeira, é a primeira vez que recebo correspondência de um personagem que criei. O Luiz Gonzaga conta que quando visitava alguma cidadezinha do interior do Nordeste, sempre havia uma Rosinha dizendo-se ex-namorada de infância dele, deve ser um fenômeno parecido. O único coreano que conheço, realmente diz chamar-se Chin e vende quinquilharias como ambulante aqui perto da Embaixada, inspirei-me nele para criar o terceiro secretário. Troca o v pelo b, e gosta de condecorar-se com medalhas e outros adereços, mas as semelhanças com minha personagem param por aí. Todos os episódios relatados são ficção pura e simplesmente, qualquer semelhança, por remota que seja com a realidade não é mera, mas estupenda coincidência.
    O sobrenome ficcional do Chim, Pand Tsé, devo a um antigo filósofo chinês Lao Tsé e uma homenagem aos ursos panda ameaçados de extinção. Só mesmo alguma dislexia ou preconceito “especieal”, se é que isso existe, pode levar alguém a confundir com Chimpanzé. Nunca pretendi, comparar nosso primo primata com o ridículo personagem da ridícula história.

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  4. Além de circense, é tergiversador o autor das duas palhaçadas seguidas. Um detalhe que, pela sua falta de instrução, deixa à mostra seu intento abominável é que não existe Coreano com sobrenome Chin (e não há Coreano ambulante que vende quinquilharias aqui em Brasília).

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  5. VAGABUNDAS são as discussões que tomaram conta do Fórum atual. O antigo Espaço do Auditor, que era um âmbiente de confronto, mas também de muita informação por ser bem frequentado,foi invadido por um bando de trolls que expulsaram a todos demais para se utilizarem daquele espaço para exibir suas insanidades, seus egos, seus ódios... Isso tudo sob as barbas da DEN atual que, numa sequência de tentativas de solucionar o problema o agravou ainda mais...
    E parece que o besteirol contaminou até o presente sitio..
    Muito triste.

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  6. Caríssimo(a) senhor(a) Anônimo(a) da quarta nota,
    Embora não possa distinguir seu gênero, creio tratar-se, pelo estilo um tanto tosco, da mesma pessoa que tentou passar-se pela minha personagem, dois comentários atrás _ uma “rosinha”, do tipo de “rosinha” que dizia-se ex-namorada do Luis Gonzaga. Chama-la-ei Rosinha até descobrir sua verdadeira idententidade, por favor não se ofenda caso seja do género masculino (existe até um político paranaense deste género chamado Dr. Rosinha).
    Caso fosse realmente meu personagem, iria promover-lhe um curso de alfabetização funcional na língua portuguesa para, ao fim do curso, com o canudo na mão, poder, a um tempo, entender a leitura da última flor do Lácio e também expressar-se inteligivelmente na ganga impura do vernáculo. Em compensação, admito minha abominável ignorância do trom e do silvo da procela das línguas orientais. Perdoe-me tal pecado.
    Rosinha meu(inha) caro(a), escrevi ao respondê-la(o) que o único coreano que conheço DIZ chamar-se CHIN, não que ostentasse tal sobrenome. Mas para seu governo, ou para o governo do líder supremo da poderosa e próspera nação da Coreia do Norte, Kim Yong-nam, afirmo que há sim, não apenas o Chin, mas diversos coreanos, não sei se do norte, do sul, do leste ou do oeste, vendendo quinquilharias pelos bares e restaurantes de Brasilia. Do Chin comprei um criativo massageador de cabeça feito de arame.

    Sr(a) Anônimo da quinta nota,
    Minhas condolências por sua tristeza e aconselho a não frequentar o espaço, soube de um auditor que lá foi abduzido por uma inteligência inferior.

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  7. Meu caro Helder,

    Essa sua crônica me surpreendeu.

    Mas o meu pensamento é o que manifestei-me lá no EA, como segue.
    Saudações,
    Ricardo França (PS: o que é URL?)
    A nossa estrutura sindical foi armada, de há muito, para um grupo (Unadoidos) permanecer e se eternizar no poder.

    Ocorre que brigas internas resultou em cisão, fato que que permitiu que nas duas últimas eleições quem era oposição passou a ser a situação, com o Pedro Delarue comendo pelas beiradas.

    Enquanto não for mudada a tal estrutura (infinidade de diretores, chapa com um quantitativo absurdo de AFRFB) dificilmente haverá a possibilidade do surgimento de uma Terceira Via.

    Temos bons nomes que poderiam fazer um excelente trabalho.

    Preocupa-me, contudo, alguns posicionamentos como o verificado em Belém, PA, onde se tem notícia de estar correndo um abaixo-assinado contrário a impetração da ADI 4616.

    Só espero que não esteja em curso um movimento para rachar ainda mais a categoria, pois a percepção que tenho é que, em relação a tal ADI 4616, o Sindtrem vai é insuflar os ânimos dos ATRFB para criar um clima de guerra no ambiente de trabalho, pois, na minha opinião, como não têm nada a perder, o Sindireceita quer mais é ver o Circo pegar fogo.

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  8. "LÍNGUA PORTUGUESA"

    Última flor do Lácio, inculta e bela,
    És, a um tempo, esplendor e sepultura:
    Ouro nativo, que na ganga impura
    A bruta mina entre os cascalhos vela...

    Amote assim, desconhecida e obscura,
    Tuba de alto clangor, lira singela,
    Que tens o trom e o silvo da procela
    E o arrolo da saudade e da ternura!

    Amo o teu viço agreste e o teu aroma
    De virgens selvas e de oceano largo!
    Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

    Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
    E em que Camões chorou, no exílio amargo,
    O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

    Olavo Bilac (1865 - 1918)

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