terça-feira, 4 de outubro de 2011

A CONSCIÊNCIA DOS OUTROS

A primeira vez que viajei de avião, fui a Brasília para o curso de formação. De meus irmão, somos seis, eu era o último a realizar a aventura de entrar em um boeing. Com 26 anos eu era um cearense provinciano a quem terras distantes ficavam no Piauí e fui a Teresina de trem, 24 horas de aventuras venturosas. Mais perto ficava a Sibéria onde ficava a Casa dos Mortos e a prisão de Raskólnikov, Crime e Castigo lidos em menos de uma noite, noite siberiana, esclareça-se.


A todo ser humano devia ser dada a experiência de afastar-se do lugar onde nasceu. Nós cearenses temos certeza disso. Fagner, a citar Gonçalves Dias, faz a paráfrase:


“Não permita Deus que eu morra,
sem sair deste lugar,
sem que um dia eu vá embora,
prá depois poder voltar.”

Santo de casa não obra milagres, dizemos com muita propriedade. É a visão da visão do outro que nós permite enxergar a nós próprios, nus, sem ornamento algum, como fomos feitos; sem o remorso do pecado original.

Passei um mês fora do Brasil e meu esforço para ver a mirada alheia, obrigou-me a alienar-me de cá. Para entender Bruxelas e o Parlamento Europeu não dá para pensar no Sarney e seus três mandatos de presidente do congresso brasileiro. Entretanto, se não voltei santo, ao menos obrei milagres. Ou melhor, melhor que obrar milagres é ter milagres atribuídos à santidade que nos atribuem. Ao ver-me obrigado a realinhar-me à FSP, ao JN e à blogosfera brasileira, vi, surpreso e envaidecido, várias curas e transmudações de água em vinho serem atribuídas a mim.

Ou melhor, atribuídas ao Taurus Miura, ao Tatá Miúda, ao Fidel e até ao Helder. Tenho novos imitadores, e ter imitadores é sintoma de sucesso. Ninguém tenta imitar fracassos. Pena que sejam tão ruins. As vezes tenho dó e penso em ajudá-los, mas fica difícil ou pretensioso demais alguém “fingir que é dor a dor que realmente sente”.

Assim, prefiro pensar, sem imiscuir-me nos sentimentos íntimos de pobres almas carregadas de remorso, ser a imitação uma tentativa simplória de expiar pecados inconfessáveis. Mas nunca arvorei-me a juiz de corruptos. Acho que a corrupção traz intrínseca a punição dada a Raskólnikov _ a consciência, mais que juiz, é carrasco. As almas corruptas clamam por punição e qualquer tentativa de eximir-se da culpa volta-se, qual ato falho, à confissão da própria ignomínia. 

3 comentários:

  1. A pintura é inconfundivelmente DeBosch.

    Rodrigo

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  2. Essa droga de consciência, sempre pesando quando os meios não são os que imaginei...

    ass:
    Robamar Froes
    Realista Sonhador

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  3. ZAELITE DANTAS TEIXEIRA4 de outubro de 2011 às 20:41

    QUE BOM! HELDER, VOCÊ VOLTOU... ESTAVA SENTINDO SUA FALTA COM ESTA E OUTRAS MENSAGENS MUITO BEM ELABORADAS...CHEGAM AO PONTO DE TENTAREM "IMITAR"...PORÉM NÃO CONSEGUEM NEM POR APROXIMAÇÃO...BAIXO NÍVEL...PRECONCEITUOSO...DIFAME E CALUNIOSO... HELDER, ACEITE O MEU IRRESTRITO APOIO E SIGA EM FRENTE! VAMOS À VITÓRIA!

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