quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SOLILÓQUIO, POLILÓQUIO E MULTIÁLOGO

FACEBOOK  -  Você ainda terá o seu
Carloto
Antigamente falar sozinho era tido como coisa de criança com amiguinho secreto ou de maluco mesmo. Puseram uma camisa de força no Carloto, lá na Fortaleza dos anos 70 por causa disso. O Chiquinho do Bisbo, que tinha muito menos juizo, escapou porque ao invés de falar, escrevia “pensamentos” em um caderno. O mais célebre deles: “é por estas e por outras que cada vez, cada vez mais, muito menos principalmente”.

Chiquinho do Bispo
Se fosse hoje, dar-se-ia o contrário. Tem um morador de rua aqui na minha quadra que pintou de preto uma tabuleta e “por ela” fala com suas quimeras, quase ninguém se apercebe, que aquilo NÃO é um celular. Já o Chiquinho seria desmascarado logo caso escrevesse metade de  seus pensamentos no Facebook. Ou mesmo se escrevesse seus(dele) pensamentos pela metade, no FB.

As novas maneiras de se comunicar neste início de século são coisa de louco. Nos anos 300 DC, Santo Agostinho misturou Carloto e Chiquinho ao escrever um livro em que falava consigo mesmo. Inventou até uma palavra para designar o desatino: SOLILÓQUIO, do latim soli (só) e loquens (fala), para contrapor-se ao DIÁLOGO, fala de dois.

Não existe palavra específica para designar conversa de mais de dois, senão teríamos trilóquios ou mesmo tetrálogos. Na verdade, etmologicamente, dialogo, vem do grego, não é DI (dois) mas DIA (através de) e legein (fala, de onde o latim tirou o loquens), mas continua sem uma palavra específica para diálogos multi participativos e sempre que se fala em diálogo eu, e acho que você também, penso em duas pessoas. Acho que, por causa do Facebook, urge criarmos o POLILÓQUIO ou o MULTIÁLOGO.

Quando Santo Agostinho escreveu seus solilóquios, a palavra escrita era privilégio de poucos, mais ou menos como o celular em 1990. As redes sociais ainda vivem seus anos noventa e já causam mais revoluções que toneladas de panfletos sonharam e não conseguiram em 1968. E muitas ainda estão por vir.

Todo mundo caiu na rede. Não ter Facebook hoje é como não ter internet há 15 anos atrás, não ter caixa de “Ze meio” há 10 anos, não participar de fórum de discussão há 5. As pessoas, mesmo nas iterações sociais da vida real, vão lhe olhar como a um ET.

Minha amiga Nori fala que o Google é a Biblioteca de Alexandria da modernidade. Se é assim, as redes sociais são a Ágora de agora. Quem, nos próximos 2 anos ainda não estiver em um Facebook qualquer, ficará falando sozinho. 

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