segunda-feira, 5 de setembro de 2011

INANIÇÃO CRIATIVA

por Rodrigo Guerra

Sou Auditor Fiscal, e Servidor Público, como primeiro emprego e por opção. Eu me formei na excelente Universidade Federal de São Carlos, uma Universidade com “U” maiúsculo que, hoje percebo, tem como maior mérito a experiência que proporciona aos alunos da coisa pública bem gerida, saudável e produtiva. É uma ilha de produção científica, aprendizado e vida social saudável e pulsante.

A realidade hoje na Receita Federal, importante órgão do serviço público federal, não me lembra daquela experiência pública saudável lá encontrada. Se lá lembra um oásis público de excelência, uma constelação de cursos e departamentos gravitando harmonicamente em torno dos princípios intrínsecos à Universidade – o Ensino, a Pesquisa e a Extensão desenvolvidos de maneira saudável não somente em indicadores de gestão, mas principalmente na realidade social do dia a dia –, aqui a nossa realidade é mais de apagar incêndios para cumprir metas do que efetivamente realizar nosso potencial enquanto Auditores Fiscais, enquanto Servidores Públicos, enquanto seres humanos.

Pois a realização pessoal não acontecerá, sejamos de qual cargo formos, apenas pelo cumprimento de metas organizacionais.

Precisamos desenvolver nossas capacidades, nossas competências, de maneira criativa, alterando a realidade em que vivemos de maneira positiva.

Conheço dois tipos de servidores públicos. Os “conformados”, que acreditam que não faz diferença brigar por mudanças porque não se vai receber mais por isto, por não dar resultado, por ser tudo assim mesmo, enfim, todo aquele amontoado de desculpas para dizer que “o sistema não pode ser vencido”, e assim é melhor apenas cumprir as metas exigidas e buscar a realização pessoal fora do trabalho. E os “teimosos”, que insistem em procurar caminhos diferentes, em “pensar fora da caixa” (off the box thinking), buscando soluções não usuais para as questões cotidianas que são um martírio tanto para o cidadão quanto para nós servidores.

Os conformados, apesar de não “perderem tempo com bobagem”, não percebem que é uma necessidade humana realizar coisas para a melhoria do bem comum, simplesmente por sermos sociais por natureza. Fazer melhor não é uma obrigação apenas pelo princípio da eficiência da administração pública; é uma necessidade pessoal para desenvolver o potencial criativo que todos nós, TODOS NÓS, temos.

Dê um salário de 5.000 reais para uma pessoa, e a tarefa de apenas grampear pares de folhas de papel e carimbar “EM BRANCO” frente em verso. Um serviço totalmente inútil, cuja razão superficial, limitada e simplória dirá que é um excelente custo benefício: pouco trabalho para um ganho financeiro enorme.
Mas agora considere que em nosso corpo funcional temos um rico mosaico humano-profissional de potenciais, muitos formados em instituições de ensino de ponta no Brasil, preparados para ser “atletas de performance” e não grampeadores e carimbadores.

Fatalmente, uma pessoa normal sujeita a tal regime de trabalho sentir-se-á desmotivado, entediado; será tragado por um redemoinho de tédio e por um torpor de inação.

Estes sintomas são típicos da inanição criativa.

Sem um canal socialmente realizador, toda esta energia criativa represada acabará por retirar a presença da pessoa do trabalho, direcionando para outras atividades quaisquer, assim tornando o corpo funcional da Receita Federal algo como um grande navio fantasma, uma grande prisão de corpos de pessoas que estão amarradas a esta realidade, mas que já não têm nem desejo, nem gana, nem prazer de realizar a atividade diária. E sem prazer, sem desejo, e sem gana, a evolução do serviço fica a passos de tartaruga, sempre dependendo que a pessoa que desenha as metas tenha a fina percepção de identificar e desenvolver indicadores que alcancem TODAS as realidades possíveis – algo obviamente não realizável, por mais genial que seja esta pessoa.

O melhor desenvolvimento só pode acontecer através do compromisso criativo daqueles que atuam diretamente com os processos de trabalho, através de um trabalho cooperativo e colaborativo, e não mais hierárquico.

Esta é a lição que as revoluções tecnológicas recentes, em especial trabalhos colaborativos como o Wikipedia e as mídias sociais, têm a nos apresentar. É aonde o teletrabalho, a descentralização da inovação, e  as mídias sociais, têm a nos apresentar. É aonde o teletrabalho, a descentralização da inovação, e a descentralização da autonomia com foco nos princípios e nos objetivos institucionais da nossa Receita Federal do Brasil encontrará o solo fértil para desenvolver-se em nova revolução, e retirar o gesso que acomete nossos processos criativos.

Por último, vejam este vídeo sobre inovação, que mostra bem como podemos aproveitar nosso capital humano.

Um comentário:

  1. Excelente escrito, tem-se que ter o negócio público RFB na cultura, arraigado de forma que a cada atitude se tenha a clara noção da conexão dela com o negócio RFB e de que modo com ele se está contribuindo por percepção mais principiológica do que por rotinas estabelecidas. Estas sucumbem a criatividade. Galazzi

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