sábado, 3 de setembro de 2011

OS APOSENTADOS SÃO OS OUTROS





Yasmim, minha neta, deu o nome de Ícaro ao filho dela nascido mês passado. Gostei da escolha. Apesar de destino trágico, o personagem sempre inspirou-me esperança na alma humana pela inquietação, pela busca da luz, do conhecimento. A queda no Egeu não é diferente do destino de todos nós, mas ele teve a vantagem de cair na busca das alturas.

Daí minha decepção ao passar, semana passada, diante da TV e descobrir a razão da escolha __ um personagem de novela, xará do meu bisneto, fez cair a ficha da razão do batismo. Pela inspiração, no máximo seria piloto de Boing. Tirei a idéia boba da cabeça e continuo sonhando que, no mínimo, será um filósofo como o tio e, quiçá, na hora da inevitável queda tenha um vislumbre da Luz.

O problema com nomes da moda são os homônimos, que além desta ousadia, teimam em nascer na mesma data dos tocáios e usam práticas codificadas com 171. Quando eu trabalhava com o CPF, assustou-me a quantidade de Marcelos nascidos no início dos anos 60. As mães na primeira amamentação, ao verem aquela carinha de joelho grudada ao peito, tinham uma inspiração com o cabelo negro e, por esta similaridade, falavam pro pai coruja _ Não é a cara do Mastroiani? Pronto, vinte e poucos anos depois debutou uma geração de "mauricinhos".

Na Receita, quase todos os concursados de 99 chamam-se Marcelo, aí se o cara não tiver a sorte de ter um sobrenome diferente como o Marcelo Lettieri, ou rimado como o Marcelo Mello, acaba sendo Marcelo Careca, Marcelo Gordo, Marcelão, ou pior, Marcelim. Deixe-se registrado que todos são a cara do Marcelo Mastroiani.

Agora, mais abundantes são os Rodrigos de 2005, inspirados n’Um Certo Capitão Rodrigo do Érico Veríssimo e adaptado para TV no anos 80. Ainda é cedo para termos Rodrigos carecas ou gordos. Só eu tenho um sobrinho e um enteado batizados assim. Aqui na RFB tem o Rodrigão da ASCOM, o Rodrigo Guerra, colega blogueiro, o Almahed, que além de Rodrigo é tijucano e não fora muita malhação já estaria virando Rodrigo Gordo. Abram o Notes, escrevam o prenome Rodrigo e vejam a quantidade de Certos Capitães.

Gosto muito destes meninos de 2005, mesmo os que não chamam-se Rodrigo. Um deles quase me adota para pai postiço enquanto longe do verdadeiro, só desistindo quando fui muito duro com ele ao dizer que pertencia à geração He Man sem a força.

Meu filho de verdade, justamente o que é avô, pertence a esta primeira geração de criados com a babá eletrônica e adolescentes pós guerra fria. Quando ele era pequeno eu nunca pensava em aposentar-me, meu maior sonho então era que os Beathes voltassem a gravar juntos. Ele e os irmãos é que foram ver o Paul McCartney no Pacaembu.

Sir Paul não cantou when I'm sixty four em Sampa. Acho que a música saiu do repertório dos shows dos quatro rapazes bem antes da morte do John. A letra foi atropelada pelo tempo antes que o lorde passasse um único verão na ilha de Wigth. Até o nascimento de minha Caçula, Flora, fã dos Beatles, eu esperava chegar aos 64 já aposentado há muito. Um “acordo pela governalidade” entre o Lula e o PSDB levaram meus planos.

Os Marcelos já vêm o risco de fazerem 69 sem aposentadoria. Mas, pior destino o neo liberalismo promete aos Rodrigos, previdência complementar além de tudo. Fomos deixando as coisas andarem sem protestar, os aposentados eram os outros. Mas o tempo passa, hoje sociedade civil, sindicatos e cidadãos em geral têm o dever de reagir, caso contrário meu bisneto nunca se aposentará, mesmo que complete, como promete a ciência, os 150 anos de vida.

10 comentários:

  1. adorei o texto papai, mas acho que a música saiu do repertório quando o paul fez 64 anos e nenhum dos netos se chamava vera, chuck ou dave, haha.
    te amo,
    Flora

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  2. Adorei. Como nao tinha TV no nosso tempo, nossos nomes eram apenas repeteco dos jah existentes na familia.
    Seus textos me fazem exercitar o raciocinio, o que eh muito bom, por sinal, pra uma aposentada...kkkk
    Beijos da mana
    Luiza Laura (no meu, repetiram logo dois rsrs)

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  3. Prezado Helder, sou um dos Marcelos da geração de 60 e tenho essas mesmas preocupações relativas a aposentadoria não só da geração dos Marcelos e dos Rodrigos, mas, tb, das Marias, Joses, Franciscos, Joaos q já estão aposentados, pois possíveis mudanças comprometem a todos. Como vem sendo muito bem explicado pelo Lettieri, que também é Marcelo, em suas palestras. Infelizmente, o nosso sindicato não tem agido c a necessária forca e articulação para barrar as propostas maléficas q tramitam no Congresso, nem feito um dialogo aberto com a geração dos Rodrigos, que conta com vários simpatizantes do fundo de previdência complementar. Parabéns pelo texto! Abs Marcelo Maciel

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  4. Legal. Sou também um dos réus de formas tão contestadas pelo PT antes de assumir a presidência. Espero que a próxima não me alcance, pois irei fazer 38 anos de trabalho e estou às portas da aposentadoria. Agora, parece que chego lá, pois faltam somente dois anos. Vamos ver.
    Nagib

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  5. Ora Nagib, logo você, que é a cara do Mastriani, não chamar-se Marcelo é uma injustiça. Ainda bem que ele, o MM, interpretou um Nagib no cinema.

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  6. ZAELITE DANTAS TEIXEIRA4 de setembro de 2011 às 09:46

    PARABÉNS! HELDER QUERIDO!
    EXCELENTE TEXTO PARA REFLEXÃO DOS COLEGAS QUE PENSAM QUE OS APOSENTADOS SÃO OS OUTROS!
    COMO BEM O MARCELINHO MACIEL CITOU:PENA QUE O NOSSO SINDICATO NÃO TEM AGIDO COM FORÇA E DETERMINAÇÃO PARA BARRAR TODOS OS MALEFÍCIOS... VAMOS ESCOLHER A MELHOR CHAPA NOS PRÓXIMOS DIAS 09 E 10 DE NOVEMBRO- CHAPA 2 - TRANSPARÊNCIA E AÇÃO!!! ABS,ZAZÁ

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  7. Adorei seu texto! Parabéns!!
    Infelizmente, tenho que concordar com o "Fomos deixando as coisas andarem sem protestar, os aposentados eram os outros."...
    Mea culpa!
    abraços,
    Evelyn

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  8. "Fomos" quem ? Confesso que a idade já tá me pegando e que tenho medo do "alemão", mas, que eu me lembre, sempre estive nas lutas para garantir a aposentadoria plena. Nem sempre ganhamos, é verdade, mas lutar eu lutei. Acho que é importante relembrar quais foram as lutas e rever o que ocorreu para não repetirmos os erros.
    Abraços do
    Marcelo Oliveira

    PS - Talvez a origem da popularização do nome Marcelo não seja assim tão "charmosa": o que me contaram é que naquele ano de 1960 tinha uma rádio novela com uma personagem que se chamava Marcelo !!!

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  9. Salve Helder, obrigado pela lembrança!

    A conclusão que chego nestes 5 anos de trabalho é que a Receita Federal e o serviço público não são mais grandes rochas, estáveis, seguras, imutáveis.

    São, isto sim, grandes icebergs derretendo lentamente, sujeitos ao aumento da temperatura promovido pelo efeito estufa.

    Parabéns pela qualidade costumeira dos seus textos.


    Abraço!

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  10. É, meu caro Helder !
    Quer dizer que você já é bisavô, mesmo sem reunir as condições para estar aposentado ?
    Começou a perpetuar a espécie muito cedo.
    Ricardo França

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